Nos últimos três meses, a nação comunista realizou testes
com artefato nuclear no subsolo e com um míssil de longo alcance, em operações
condenadas pela ONU. No final de março, declarou “estado de guerra” com o Sul
e, em 2 de abril, anunciou que reativará suas instalações nucleares, incluindo
a principal, de Yongbyon, fechada em 2007.
A tensão aumentou ainda mais no último dia 3, quando o
Exército norte-coreano anunciou que estava pronto para realizar um ataque
nuclear contra os Estados Unidos.
Em resposta às hostilidades, os Estados Unidos e a Coreia do
Sul iniciaram exercícios militares em conjunto. Os americanos, por exemplo,
fizeram voos com caças B-2, invisíveis a radares e carregados de armas
nucleares, nos céus sul-coreanos. Ambos os governos também afirmaram levar a
sério as hostilidades de Pyongyang (capital do Norte) e que estariam prontos para
responder a qualquer ataque.
Também no dia 3 de abril, o Pentágono anunciou que um
sistema de defesa antimísseis estava sendo enviado para a ilha de Guam, um dos
territórios americanos no Pacífico.
As duas Coreias estão em guerra desde 1953, uma vez que
nenhum tratado de paz foi assinado, apenas um armistício, rompido
unilateralmente pela Coreia do Norte em 11 de março. Desde 2006, o governo
norte-coreano sofre pressão internacional para que desista de seu programa nuclear
com intenções militares.
A escalada da tensão entre as duas Coreias repete a crise de
2009, quando o Norte fez exercícios de guerra semelhantes. Na ocasião, o
objetivo era pressionar os Estados Unidos a negociar o fim das sanções
econômicas ao país e, internamente, respaldar o governo de Kim Jong-il, cuja
família está no poder há mais de meio século.
O ditador norte-coreano morreu em 2011 e foi substituído
pelo filho, o jovem Kim Jong-un. Na crise atual, Kim Jong-un utiliza a mesma
estratégia do pai para, mais uma vez, chamar a atenção de Washington e, na
política doméstica, firmar sua liderança.
A diferença é que ele encontra, na rival Coreia do Sul, uma
presidente mais “linha dura”: Park Geun-hye, a primeira mulher a ocupar o
cargo, vem respondendo com rigor às provocações do norte-comunista.
Ainda assim, a ausência de mobilizações de tropas indica que
o caso deve se resolver, mais uma vez, na mesa de negociações. Outra razão para
acreditar que a tensão permanecerá no campo do discurso é que a retaliação a um
eventual ataque, principalmente por parte dos Estados Unidos, seria tão severa
que representaria o fim do atual regime norte-coreano.
As agressões entre as Coreias têm ainda uma importância no
plano da geopolítica mundial, pois coloca frente a frente as duas maiores
potências econômicas do planeta: os Estados Unidos, aliados da Coreia do Sul e
do Japão, e a China, país também comunista que apoia a ditadura de Kim Jong-un.
Militarização
A Coreia do Norte é um dos países mais pobres da Ásia, com
um PIB 36 vezes menor que a rica Coreia do Sul e comparável ao de nações mais
pobres da África subsaariana. Porém, faz parte de um grupo reduzido de
potências nucleares – que inclui China, Estados Unidos, Reino Unido e França –
e possui o quarto maior exército do planeta.
A militarização começou no final da Segunda Guerra Mundial,
quando as Coreias foram divididas e estiveram em guerra entre 1950 e 1953. A do
Norte adotou um regime comunista nos moldes soviéticos, o que a tornou um dos
países mais fechados e isolados do mundo contemporâneo.
Com uma população pobre e faminta, o Estado norte-coreano
encontra no inimigo externo uma justificativa para o aparelhamento bélico e no
programa nuclear uma fonte de orgulho patriótico. Além disso, do mesmo modo que
o Irã, a Coreia do Norte passou a usar os arsenais nucleares como instrumentos
de chantagem internacional.
Estima-se que Pyongyang tenha hoje entre quatro e dez armas
nucleares baseadas em plutônio, que foram produzidas no reator de Yongbyon. O
recente anúncio da reativação dessa central causa apreensão no mundo, porque
permitirá a produção de bombas também à base de urânio enriquecido.
O governo norte-coreano, oficialmente, afirma que o
armamento nuclear tem a função de preservar a paz e a soberania do país. Mas,
de acordo com especialistas, esse armamento teria mais intenções “diplomáticas”
do que militares. O que a Coreia do Norte quer, na verdade, é um tratado de paz
com o Sul, a retirada das tropas americanas da fronteira e o fim das sanções ao
país por conta de seu programa nuclear. No final das contas, quer apenas romper
a “cortina de ferro” que sufoca sua economia em um mundo globalizado.