sexta-feira, 12 de abril de 2013

O CONFLITO ENTRE AS COREIAS

A Coreia do Norte voltou a ameaçar a vizinha Coreia do Sul e os Estados Unidos de ataques com armas nucleares. Entretanto, poucos especialistas acreditam que há um risco real de guerra por trás do discurso do governo norte-coreano.

Nos últimos três meses, a nação comunista realizou testes com artefato nuclear no subsolo e com um míssil de longo alcance, em operações condenadas pela ONU. No final de março, declarou “estado de guerra” com o Sul e, em 2 de abril, anunciou que reativará suas instalações nucleares, incluindo a principal, de Yongbyon, fechada em 2007.

A tensão aumentou ainda mais no último dia 3, quando o Exército norte-coreano anunciou que estava pronto para realizar um ataque nuclear contra os Estados Unidos.

Em resposta às hostilidades, os Estados Unidos e a Coreia do Sul iniciaram exercícios militares em conjunto. Os americanos, por exemplo, fizeram voos com caças B-2, invisíveis a radares e carregados de armas nucleares, nos céus sul-coreanos. Ambos os governos também afirmaram levar a sério as hostilidades de Pyongyang (capital do Norte) e que estariam prontos para responder a qualquer ataque.

Também no dia 3 de abril, o Pentágono anunciou que um sistema de defesa antimísseis estava sendo enviado para a ilha de Guam, um dos territórios americanos no Pacífico.
As duas Coreias estão em guerra desde 1953, uma vez que nenhum tratado de paz foi assinado, apenas um armistício, rompido unilateralmente pela Coreia do Norte em 11 de março. Desde 2006, o governo norte-coreano sofre pressão internacional para que desista de seu programa nuclear com intenções militares.
A escalada da tensão entre as duas Coreias repete a crise de 2009, quando o Norte fez exercícios de guerra semelhantes. Na ocasião, o objetivo era pressionar os Estados Unidos a negociar o fim das sanções econômicas ao país e, internamente, respaldar o governo de Kim Jong-il, cuja família está no poder há mais de meio século.

O ditador norte-coreano morreu em 2011 e foi substituído pelo filho, o jovem Kim Jong-un. Na crise atual, Kim Jong-un utiliza a mesma estratégia do pai para, mais uma vez, chamar a atenção de Washington e, na política doméstica, firmar sua liderança.

A diferença é que ele encontra, na rival Coreia do Sul, uma presidente mais “linha dura”: Park Geun-hye, a primeira mulher a ocupar o cargo, vem respondendo com rigor às provocações do norte-comunista.

Ainda assim, a ausência de mobilizações de tropas indica que o caso deve se resolver, mais uma vez, na mesa de negociações. Outra razão para acreditar que a tensão permanecerá no campo do discurso é que a retaliação a um eventual ataque, principalmente por parte dos Estados Unidos, seria tão severa que representaria o fim do atual regime norte-coreano.

As agressões entre as Coreias têm ainda uma importância no plano da geopolítica mundial, pois coloca frente a frente as duas maiores potências econômicas do planeta: os Estados Unidos, aliados da Coreia do Sul e do Japão, e a China, país também comunista que apoia a ditadura de Kim Jong-un.

Militarização
A Coreia do Norte é um dos países mais pobres da Ásia, com um PIB 36 vezes menor que a rica Coreia do Sul e comparável ao de nações mais pobres da África subsaariana. Porém, faz parte de um grupo reduzido de potências nucleares – que inclui China, Estados Unidos, Reino Unido e França – e possui o quarto maior exército do planeta.

A militarização começou no final da Segunda Guerra Mundial, quando as Coreias foram divididas e estiveram em guerra entre 1950 e 1953. A do Norte adotou um regime comunista nos moldes soviéticos, o que a tornou um dos países mais fechados e isolados do mundo contemporâneo.
Com uma população pobre e faminta, o Estado norte-coreano encontra no inimigo externo uma justificativa para o aparelhamento bélico e no programa nuclear uma fonte de orgulho patriótico. Além disso, do mesmo modo que o Irã, a Coreia do Norte passou a usar os arsenais nucleares como instrumentos de chantagem internacional.

Estima-se que Pyongyang tenha hoje entre quatro e dez armas nucleares baseadas em plutônio, que foram produzidas no reator de Yongbyon. O recente anúncio da reativação dessa central causa apreensão no mundo, porque permitirá a produção de bombas também à base de urânio enriquecido.

O governo norte-coreano, oficialmente, afirma que o armamento nuclear tem a função de preservar a paz e a soberania do país. Mas, de acordo com especialistas, esse armamento teria mais intenções “diplomáticas” do que militares. O que a Coreia do Norte quer, na verdade, é um tratado de paz com o Sul, a retirada das tropas americanas da fronteira e o fim das sanções ao país por conta de seu programa nuclear. No final das contas, quer apenas romper a “cortina de ferro” que sufoca sua economia em um mundo globalizado.